Meteorito Bendegó: Importância para a memória e Turismo da Zona Caminhos do Sertão.

O meteorito ainda no Riacho Bendegó

A Pedra de Bendegó, como é conhecido o famoso meteorito encontrado no sertão baiano por volta do ano de 1784 quando no mundo ainda não se sabia bem o que era um artefato extraterrestre, é o maior meteorito já encontrado em solo brasileiro, sendo na época de sua descoberta o segundo do mundo, hoje ocupando a 16ª posição. No ano seguinte os rumores já corriam o mundo e uma expedição a mando do Governador da Província para levar o artefato para Salvador foi organizada. O que não deu muito certo quando a rocha de 2,20m x 1,45m x 58 cm e 5.360 quilos despencou do alto de uma colina caindo no pequeno riacho chamado Bendegó no então município de Monte Santo. Após este evento a rocha ali permaneceu por mais cem anos até ser retirada e levada ao Rio de Janeiro por ordem de Dom Pedro II – que ficou sabendo de sua existência por ocasião de sua visita à Academia de Ciências de Paris, onde encontrou fragmentos da rocha estudados por naturalistas que haviam visitado a região e retirado amostras para estudos (Aristides F. Morna, Carl Fiedrich Philipp von Martius e Jean Baptiste Ritter von Spix). A rocha permanece até hoje no Museu Nacional do Rio de Janeiro.

Antes de ganhar fama e  interesse internacional a Pedra de Bendegó já ocupava o imaginário da população sertaneja que desenvolveu por ela um sentimento de posse, dando a ela papéis folclóricos. Era comum as pessoas procurarem, segundo as histórias, a pedra para se refrescar nos dias de calor, pois a rocha composta basicamente de metal oferecia temperatura baixa, diferentemente de outras. Isso já gerava um estranhamento e reconhecimento da singularidade do artefato. O sentimento de pertencimento do meteorito àquela localidade existe até hoje. A Prova da ligação extrema do artefato com o imaginário popular foi o evento da destruição do marco da expedição de remoção.

Monumento marco da retirada do meteorito

Após a sua remoção uma grande seca atingiu a região fazendo a população associar os dois eventos, culpando a retirada do objeto pela estiagem. História que perdura e envolve a população num anseio pela repatriação da Pedra.

Assim, a historia que envolve sua descoberta/retirada junto com a paisagem, sobretudo natural do lugar, fazem composição de um espectro amplo de curiosidades e potencialidades turísticas. Segundo MENEZES (2002) seria superficialidade delimitar nossa compreensão da paisagem apenas a porção visual do espaço geográfico, apesar de ser este o aspecto mais explorado pelo Turismo como atividade. Dessa forma, entende-se que a história, os usos, os atributos que o homem fixa á determinada paisagem é que faz desse lugar único no mundo. O que dirá de uma paisagem onde está inserido relíquia tão valiosa?

Pensando turisticamente…

Monte Santo, Canudos e outras cidades que tiveram sua história trassada pela epopeia do meteorito estão inseridas na Zona Turística Caminhos do Sertão. Região propícia para o desenvolvimento de modalidades de turismo como, o Turismo religioso, Sócio-cultural, Turismo de Saúde, mas que atualmente não é aproveitado devidamente.

O processo de repatriamento de um objeto desse valor representaria para a região, antes de qualquer coisa, uma chance de resgate de identidade profunda de uma população que já se encontra de certa forma desassistida pela capital do Estado no processo de reapropriamento de bens ou até mesmo de reconhecimento cultural e fomentos econômicos ao turismo. O Sertão Baiano guarda enorme patrimônio e potencialidade inexplorados.

Hoje podemos entender que a falta de atenção dada outrora aos bens e populações das pequenas cidades (ou povoados em época) se deu devido a ignorância sobre a importância do patrimônio local. Mas hoje é importante que a sociedade civil esteja engajada no processo que viabilize não apenas o reapropriamento, como também a possibilidade de receber e preservar os objetos símbolos da história da nossa gente não permitindo que estes processos se deem apenas através de preservacionismo da iniciativa privada que na maior parte das vezes está interessada em atribuir valores puramente mercadológicos, anulando o valor sentimental do patrimônio.

O Turismo entra nisso como instrumento de transformação geográfica, trazendo desenvolvimento (sendo bem planejado para que o tiro não saia pela culatra). O Governo do Estado só tem a ganhar com investimentos na região, até porque como diz Castro (1998, apud CRUZ: 31):

[…] para os agentes do Governo, responsáveis pela elaboração e implementação de políticas públicas, as atividades turísticas são boas porque geram emprego, renda e contribuem para o processo de desenvolvimento, […]

por sorte alguns grupos da sociedade interagem em prol do que chamam movimento “A Volta de Bendegó”, constituído por intelectuais que captaram esse sentimento popular e estão direcionando forças para reaver este patrimônio.

Lógico que não se pode sugerir o turismo como o “socorro” para estas e outras problemáticas, mas com certeza é uma boa ferramenta de transformações positivas. Tudo depende do planejamento, que se envolver uma boa dose de criatividade e humanidade aumenta as chances de estabilizar os vetores contrários.

Abaixo vídeo de matéria exibida na TVE Bahia, no programa Debate com o conselheiro do TCE Bahia e arquiteto Zezéu Ribeiro; Luiz Paulo Neiva, professor da UNEB; e o antropólogo e pesquisador Washington Queiroz falando sobre a história do meteorito e o movimento ⇒A Volta de Bendegó

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